Recentemente, uma amiga bem próxima me disse que queria conversar comigo sobre alguns comportamentos da cadelinha para pedir a minha orientação para o dia a dia, como um plano de manejo, além de um plano de treinamento se fosse o caso. Antes de tudo, enviei o formulário que eu costumo usar profissionalmente e pedi a ela que o preenchesse. "Preencha como se você não me conhecesse, e como se eu não soubesse de nada a respeito da sua cachorra", eu disse.
Depois que verifiquei o formulário que recebi de volta preenchido, dei vazão a tudo que me passou pela cabeça escrevendo um e-mail. Após clicar em "enviar", achei que aquela mensagem poderia ser interessante para mais pessoas, como um olhar verdadeiro e atual sobre o tema da comunicação entre tutores conscientes e seus cães. Decidi então que transformaria aquela mensagem neste artigo de blog.
O texto a seguir (de outra cor) é, portanto, de uma mensagem real dirigida a uma pessoa real, que tem uma cadelinha real. Fiz apenas algumas modificações para não citar dados pessoais.
Prezada tutora, acho que pode ser revelador o fato de você ter sentido dificuldades para responder justamente as questões sobre:
- como você lida com os comportamentos inadequados do seu cão;
- como você recompensa os bons comportamentos dele; e
- quais as situações em que seu cão exibe ...? (... aqui entravam alguns sinais de "linguagem corporal" comuns nos cães, alguns mais evidentes e outros mais sutis)
Digo "revelador" porque me parece uma indicação de que você não está se comunicando eficazmente com a sua mascote - não está se fazendo entender em relação ao que você quer dela, e não tem uma boa "leitura" de quando ela consegue te entender ou das vezes em que ela fica confusa (consequentemente, estressada). É uma indicação também de que você não está entendendo bem o que ela "diz" - não está observando, reconhecendo e/ou sabendo interpretar os sinais corporais que ela dá e as emoções por trás desses sinais. Posso deduzir que você não costuma dar muita orientação a ela a respeito do que você gosta ou do que não gosta, e posso imaginar que você esteja com dificuldade de perceber do que ela gosta e o que a faz se sentir desconfortável.
Quando eu falo dessas coisas com meus clientes, eu procuro fazer com que eles entendam que eu não os estou julgando, mas, sim, que o aprendizado de comunicação efetiva nos dois sentidos é essencial para uma relação saudável baseada em confiança. No entanto, às vezes eu quase consigo ouvir o pensamento de alguns: "Se eu contratei um adestrador, como é que pode esse adestrador querer que eu saiba e faça isso tudo?". Porém, não existe outro jeito: se os tutores não souberem ou não fizerem "isso tudo", não podem esperar um convívio harmônico e prazeroso numa relação de longo prazo.
[Saiba mais sobre a importância do comprometimento dos tutores aqui.]
Você diz que sua cadelinha é doce e brincalhona, que você baba só de olhar e que dá muito carinho. E eu não tenho a menor dúvida quanto a isso! Em casa, com ela e sua família, eu sei que é assim. Mas eu ainda preciso enfatizar a importância de aprender a se comunicar o melhor possível com os cães e reconhecer as emoções dele dentro e fora de casa nas mais diversas situações.
Imagine, por exemplo, se você adotasse uma menina de oito anos que se comunicasse pela Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), mas você pensasse assim: eu vejo minha filha fazendo sinais, mas não presto muita atenção porque não sei o que eles significam; eu sei que minhas expressões faciais, meus gestos e todo o meu corpo "falam" (mesmo quando eu não faço isso intencionalmente), mas eu não sei se minha filha entende o que eu quero dizer ou se entende justamente o oposto. Mas eu a amo, e isso basta.
(Coloquei dessa forma para que ficasse claro que não basta.)
Agora imagine (só mais um exemplo) se você tivesse um filho autista que sentisse um enorme desconforto quando outras crianças se aproximassem muito dele e/ou o tocassem (ainda que a intenção delas fosse apenas de interagir/brincar). Vamos supor ainda que, em alguns casos, isso pudesse desencadear uma crise. E vamos continuar imaginando que, apesar disso, você pensasse assim: eu não sou capaz de reconhecer a tempo os primeiros sinais que meu filho emite, e acho que deve ser difícil, então prefiro deixar acontecer e rezar para que isso "melhore com o tempo".
(Nem preciso dizer que não é assim que funciona, né?)
A boa notícia é que, com um pouquinho de disponibilidade e dedicação, e com um olhar atento sobre sua mascote nas mais diversas situações, você pode aprender em pouco tempo a perceber os sinais e interpretar o que ela estiver sentindo ou "dizendo", bem como aprender a usar sua própria linguagem corporal (e sua voz) para transmitir "mensagens" que ela consiga compreender com clareza e sem estresse.
Agora que você acabou de ler, vá aos comentários (abaixo) e comente se você gostou, envie uma pergunta, compartilhe com a gente suas próprias experiências nesse tema. Eu também vou ficar feliz se você compartilhar esse artigo com quem você se importa.
Se precisar de ajuda profissional neste (ou em outro) tópico, entre em contato com o consultor e treinador profissional sem força e sem intimidação Zé Ricardo Adestrador.
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