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Foto do escritorZé Ricardo (TrEiNoPeT)

Cão agressivo: Não Piore!

Atualizado: 5 de dez. de 2023


Cachorro exibindo agressividade

As pessoas em geral não sabem que suas próprias atitudes (ou a falta da atitude necessária) podem contribuir para piorar problemas de agressividade ou reatividade em cães.


(Para saber o que significa reatividade, leia: O que é Reatividade em cães)


Então, vou falar aqui de as principais coisas que as pessoas NÃO devem fazer

(se não quiserem botar mais lenha na fogueira).


9. Gritar com o cachorro


Gritar só é válido quando alguém está tão longe de você que não vai conseguir te ouvir de outra maneira. Os cães têm uma audição excelente, e não há qualquer razão para gritar com eles. Gritos e mau humor só fazem piorar a agressividade do seu cão.


Examine este exemplo, do ponto de vista do seu cão:

  • Ele vê algo, fica agressivo e começa a latir

  • Você fica irritado e grita com ele

No entendimento dele, você se juntou a ele, apresentando o mesmo tipo de reação que a dele. Quase nenhum cão entenderia que o dono está zangado com ele, por ele ter reagido de forma exagerada a uma situação normal (normal do nosso ponto de vista, não do dele). O que a maioria esmagadora dos cães entende é que o dono também ficou furioso naquela situação. É como se o dono estivesse confirmando que aquele é o comportamento necessário naquela situação, o que fará com que o cachorro reaja da mesma maneira ou pior das próximas vez.


8. Dar trancos na guia


O treinamento de cães da escola "tradicional" (ultrapassada) indicaria dar trancos na guia quando o cachorro demonstrasse uma reação agressiva. Muitas vezes, fazer isso pode piorar as coisas.


A "correção" com a guia (como alguns chamam esses trancos ou puxões) quase sempre é aplicada com atraso. Para que tivesse chance de ser eficaz, a "correção" teria que ser aplicada no instante em que o cachorro estivesse começando a "pensar" em ficar agressivo.


Mas, verdade seja dita, 95% das pessoas normais não passam o tempo inteiro observando atentamente a sutil linguagem corporal de seus cães. O mais comum é o dono se dar conta quando o cachorro já está tomado pela emoção negativa que o impede de reagir de outra forma.


Outra coisa que a maioria das pessoas não pensa é que os cachorros veem as coisas de formas diferentes de nós humanos. Como adestrador e tutor, eu tento dar o meu melhor para ver as coisas da perspectiva do cachorro.


Um humano pensa que está "corrigindo" um comportamento indesejável. O cão, por sua vez, vê o estímulo que causa nele a reação agressiva (pessoa, cachorro, skate etc.) e, então, sente a "correção" aplicada pelo dono. Após algumas repetições dessa situação, o cão já associa o estímulo ao qual ele já era reativo com a sensação desagradável da "correção" que está por vir. Assim, o cachorro tem agora mais um motivo para querer "surtar" quando vê aquilo que ele já não gostava. Geralmente, isso faz com que o cão fique cada vez mais reativo ou agressivo nas próximas vezes.


7. Usar coleira eletrônica


Infelizmente, as coleiras eletrônicas estão voltando no treinamento de cães, especialmente nos Estados Unidos. Mas esse tipo de ferramenta foi banido de países como Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha e outros.


Poderíamos discutir os atributos de uma boa coleira eletrônica e os perigos de um produto "genérico". Também seria possível dialogarmos sobre situações, formas de utilização etc.. Mas eu optei por me ater a uma frase famosa, de autoria do Dr. Ian Dunbar:


"Para usar choque como método eficaz de treinamento de cães, você precisa de: uma compreensão completa de comportamento canino; uma compreensão completa de teoria da aprendizagem; e exatidão no momento da aplicação do choque. Mas quem tem essas competências não precisa usar uma coleira eletrônica."

Muitas pessoas vão até uma grande Pet Shop, compram uma coleira eletrônica (em geral, genérica, pois as de fabricantes com know-how são muito caras), prendem-na ao pescoço do cachorro (sem uma adaptação prévia) e saem dando choques no cachorro por qualquer deslize. Isso é lamentável e pode ser perigoso em casos de agressividade.


Vejamos um exemplo similar ao que descrevemos no caso de "dar puxões na guia":

  • Um cão (que exibe agressividade quando vê outro cão se aproximando) está passeando na guia e avista outro cão;

  • Ao avistar o outro cão, ele fica nervoso e começa a fazer sua "exibição de agressividade";

  • O dono, então, aciona a coleira eletrônica;

  • O cachorro leva o choque, não entende bem de onde aquilo veio, e acaba associando aquele choque ao fato de outro cão ter aparecido;

  • À medida que isso se repete, o cão antecipa o choque cada vez que avista outro cão numa certa distância;

  • Do ponto de vista emocional, o problema piora, já que agora o cão tem mais um motivo para temer a aproximação de outros cães;

  • E como o cão reativo está na guia, ele não pode morder aquele outro cão, mas pode redirecionar um ataque e morder qualquer pessoa ou bicho que esteja ao alcance dele, inclusive o condutor (aquele que estiver segurando a guia).

Nem todo cão faz isso, mas vários se comportam assim, redirecionando a agressão quando estão na guia ou de um dos lados de uma cerca.


E mesmo quando o choque interrompe a reação de um cão, esse falso resultado é apenas momentâneo; ao longo do tempo, as coisas vão continuar piorando.


6. Ficar nervoso


Seu cão é capaz de perceber mudanças sutis em você. Ele sente suas mudanças de estado emocional pela guia e por sua voz e/ou linguagem corporal.


Quando você fica nervoso, você pode não apenas alimentar a agressividade do seu cão, mas também pode "ensinar" um cão aparentemente controlado a reagir.


Donos de cães costumam ficar tensos quando veem aquilo que funciona como "gatilho" da agressividade de seus cães (pessoas, outros cães, skates etc.). Geralmente, o que os donos fazem nessa hora é tensionar a guia, puxar o cão para perto, enrolar a guia na mão, mudar a forma de caminhar e/ou dizer alguma coisa em tom de voz diferente. Isso funciona como uma confirmação para o cão, do tipo "meu dono, assim como eu, também fica preocupado com aquilo".


Talvez você já tenha passado por alguma situação na qual teve a impressão de que seu cão só ficou agressivo depois que você viu a "coisa" (pessoa, cão, bicicleta etc.) que te fez ficar preocupado com a reação que o seu cão teria. É provável que seu cão ainda nem tivesse visto o outro cão (ou outro "gatilho") ou não o tivesse enxergado como uma ameaça, mas a sua mudança de atitude, ainda que sutil, enviou um sinal para deflagrar a reação do seu cão.


Essa antecipação do que pode estar por vir é super compreensível, mas nós precisamos estar conscientes e exercitar nossa mente para que isso não aconteça. Manter a calma e agir de forma premeditada é sua melhor opção ao lidar com um cão agressivo ou reativo, pois você estará mostrando a ele que não há nada a temer naquela situação.


5. Não treinar "passeio na guia" com o cão


Um número grande de pessoas ensina seus cães dar a pata, rolar, girar e outros truques. Muitas dessas mesmas pessoas não dão tanta importância a alguns treinamentos que estão entre os que eu mais gosto, como é o caso de vir ao ser chamado, ficar/esperar, passear sem puxar, caminhar junto e olhar no olho do dono.


Eu acho uma pena que a maioria das pessoas simplesmente ponha a coleira no cachorro e saia para passear, sem antes ter dedicado um tempo para ensinar boas maneiras na guia. Ensinar seu cão a andar junto e sem puxar a guia pode ser uma tarefa trabalhosa, mas vale cada segundo investido.


Agora, imagine que você esteja passeando com seu cão reativo e note que outro cão (ou outro "gatilho") esteja se aproximando. Mas você fez o dever de casa completo: seu cão é capaz de colar do seu lado e olhar pra você se você pedir, inclusive na presença de distrações. Passar por outro cão, pelo caminhão de lixo ou por qualquer outra coisa que antes desencadeava uma reação agressiva no seu cão agora é possível porque você deu ao cão uma alternativa.


4. Não socializar o cão


Socialização não é algo que se faz apenas com filhotes. Você tem que fazer intensivamente com o filhote para poder continuar fazendo pelo resto da vida. Além disso, o que você chama de socialização não deve ser a mesma coisa na qual eu estou pensando.


Para mim, socialização não é deixar um cachorro correndo e brincando com outros cães em um "parcão" e ficar despreocupado olhando o celular. Você não conhece a maioria dos outros cães e a maioria dos donos dos outros cães. Muitos donos de cães que já manifestaram agressividade acreditam que devem levar seus cães a um "parcão" para que eles se tornem mais sociáveis. Então, seu cão pode acabar traumatizado pelo resto da vida ou entrar numa briga e sair seriamente ferido.


Eu prefiro pensar em "socializar" no sentido de treinar e brincar com o meu cão perto de outros cães. A interação livre entre cães também é muito bem-vinda quando o comportamento dos outros cães for conhecido e previsível. Além disso, a brincadeira entre o seu cão e os outros deve ser repetidamente interrompida por um pedido de dois ou três comandos e uma liberação para reiniciar a brincadeira.


Eu penso em socialização de forma análoga à habituação no seguinte exemplo: eu quero habituar meu cachorro com britadeiras e ruídos de um prédio em construção, mas jamais vou deixar meu cachorro solto num canteiro de obra. O que eu vou fazer é trabalhar positivamente com meu cão enquanto mantenho essas coisas em segundo plano.


Você vai querer complementar seus conhecimentos lendo o artigo: Cão filhote, Socialização (versus isolamento)



3. Permitir tédio e frustração


Cães entediados e/ou frustrados podem fazer coisas horríveis (horríveis aos olhos humanos, pelo menos). Um cachorro entediado e/ou frustrado procura válvulas de escape e as encontra. E, por mais que os humanos não queiram aceitar, agir agressivamente pode acabar sendo um passatempo para um cão.


Para minimizar o tédio, você precisa oferecer ao seu cão uma rotina enriquecida com passeios, exercício físico, estimulação mental, brincadeiras, adestramento positivo, brinquedos (especialmente comedouros interativos, brinquedos recheados e "ossos" de nylon) etc..


Com uma rotina rica, seu cão não terá muito tempo para se sentir frustrado, mas você ainda deve evitar que ele tenha chances de acumular frustração. Vejamos um exemplo:


Não é legal você deixar seu cachorro do lado de fora da casa num horário onde ele possa ver e ouvir outros cães e pessoas indo e vindo. Observar outros cães e pessoas fazendo coisas "divertidas" e não poder se juntar a eles pode ser muito frustrante. Quando seu cão se sente frustrado dia após dia, essa frustração pode se transformar em agressividade. E se, dia após dia, essa frustração vier associada a uma determinada pessoa, pessoas em geral ou cães, seu cão pode ficar condicionado e reagir agressivamente ao ver aquela pessoa, pessoas em geral ou cães em situações diferentes da original.


Com certeza, você também vai se interessar pelos seguintes artigos relacionados:


2. Incentivar a agressividade


Quem, em sã consciência, encorajaria a agressividade? Acho que ninguém, mas o problema é que podemos fazer isso inadvertidamente.


É inegável que as coisas que você comunica ao seu cão são muito importantes para ele. Outro fato é que seu cachorro é um verdadeiro mestre em captar suas "mensagens" mais sutis, ainda que você não as "envie" intencionalmente.


Por exemplo, seu cão late ao ouvir uma campainha num filme ou novela de TV, como se ela fosse real, e você acha aquilo engraçado e ri. Pode ser que seu cão tome seu riso como um sinal de aprovação e, nesse caso, você estaria reforçando o latido para o som da campainha.


Nas interações com nossos cães, precisamos estar sempre conscientes dos nossos comportamentos e de como eles podem estar afetando nossos cães.


Isso também vale para aquele cara esquisitão para quem seu cachorro rosnou na rua (exemplo externo). Se você o encorajou, talvez ele passe a adotar o mesmo comportamento contra pessoas em quem você confia.


Talvez você não se importe quando seu cachorro ameace de morte os entregadores de pizza (outra situação em casa), mas provavelmente você fica bem chateado quando ele faz a mesma coisa enquanto você recebe visitas.


Sua melhor opção é desencorajar a agressividade em geral e ensinar a seu cão que é você o responsável por se proteger na rua e tomar conta da sua casa.


1. Esperar que melhore


Já conversei com muitas pessoas que acreditavam que a agressividade poderia passar com o tempo. Mas a verdade é que, em 99,9% dos casos, isso não acontece. Pelo contrário, "esperar que melhore" pode levar a mais e mais agressividade.


Também há muita negação por parte dos tutores quando se trata de cães agressivos, acho que isso é da natureza humana...


Mas o que faz diferença é aceitar que existe um problema e que ele precisa ser tratado, bem como se conscientizar de que uma mudança emocional-comportamental desse tipo pode exigir bastante dedicação.


E é muito provável que você se saia muito melhor com a ajuda especializada de um adestrador positivo qualificado e atualizado.



Você se identificou com alguma dessas situações? Deixe uma pergunta nos comentários abaixo ou compartilhe com a gente suas experiências nesse tema!


Compartilhe! Ajude muitas pessoas e muitos cães a conhecerem a educação canina atual, eficaz, sem força ou intimidação!

2 Kommentare

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zepedrolopes
05. Apr. 2021

A situação é a seguinte, o meu cão não deixa que mais nenhum outro cão se aproxime de mim. Fica c o pelo eriçado, ladre vigorosamente, e puxa para investir. Quando não está com a trela dispara direto e depois normalmente volta para perto de mim. Por vezes chega mesmo perto do outro cão e já tentou morder. Tenho feito um trabalho de focus em mim de modo a prevenir a sua reação e jogo com a distancia, i.e., se reage afasto-me até que pare o comportamento. Por vezes deito comida para o chão de modo a tentar desfocá-lo mas quase sempre sem sucesso. Quando estou a uma distancia em que não reage reforço esse comportamento normalmente com biscoitos. Mas…


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Zé Ricardo (TrEiNoPeT)
Zé Ricardo (TrEiNoPeT)
05. Apr. 2021
Antwort an

Olá, Zé Pedro, e obrigado por compartilhar conosco seus comentários!


Para que eu possa orientá-lo corretamente, eu antes preciso fazer uma análise detalhada do caso, o que envolve muitas perguntas e respostas, além de muita experimentação e observação.


Tomando por base apenas os seus comentários, posso de dizer algumas coisas:


Primeiramente, você diz que seu cão não deixa que outro cão se aproxime de você, mas eu acredito muito mais em outra coisa: é muito mais provável que ele não se sinta confortável quando outro cão se aproxima dele mesmo. Acredito que ele esteja apresentando o que nós adestradores chamamos de reatividade baseada em medo. Isso, na maioria das vezes, deriva de falta de socialização com outros cães durante o…


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