OS FILHOTES E A MÃE JUNTOS POR 8 SEMANAS
A maioria das pessoas não sabe da importância de manter os filhotes convivendo com a mãe e os irmãos de ninhada nas primeiras oito semanas de vida. Por falta de orientação correta, as pessoas tendem a levar filhotes para casa 45 dias após o nascimento. (Deveria ser obrigação dos criadores orientar os compradores, mas a maioria não sabe ou não se importa.)
O prazo de 45 dias é insuficiente para o desenvolvimento inicial – psicossocial e comportamental – dos filhotes. A consequência disso é um enorme risco de surgimento de problemas comportamentais no futuro, que às vezes podem ser sérios e difíceis de resolver.
Quando isso acontece, os problemas ainda podem ser tratados com um adestrados qualificado e atualizado. Mas se os donos não souberem disso ou não puderem/ quiserem arcar com esse trabalho, esses cães podem acabar isolados ou abandonados e, muitas vezes, sacrificados. Quanta tristeza!
Os criadores dignos de confiança e respeito não costumam deixar que um futuro dono leve para casa um filhote com menos de 8 semanas de vida, e estas 2 semanas a mais fazem muita (MUITA!) diferença. Duas semanas, na escala de tempo de desenvolvimento de um filhote, é uma eternidade. Infelizmente, inúmeros criadores querem se livrar dos filhotes o mais rápido possível, já que cuidar de uma ninhada dá trabalho e envolve despesas.
"IMPRINTING"
O desenvolvimento psicossocial de um cachorro filhote em sua matilha ocorre na fase do chamado imprinting, quando o filhote aprende os aspectos sociais e psicológicos da sua própria espécie – aprende o que é ser um cachorro! Ele aprende a se comportar como um cachorro normal no meio de vários outros cachorros normais.
Entre outras coisas, ele aprende a se comunicar com outros cachorros – na linguagem de cachorro!
A linguagem de cachorro é um conjunto complexo de sinais corporais e vocais (alguns muito sutis) que, quando emitidos por um cão, os outros cães reconhecem e interpretam. Aprender a linguagem significa se tornar capaz de entender os sinais dos outros e emitir sinais que os outros possam entender.
Além da habilidade da comunicação com outros cães, os filhotes aprendem regras sociais e respeito à hierarquia dentro de uma matilha.
Se esta janela crítica de aprendizado for interrompida antes da hora, o cãozinho vai se mudar para a casa de humanos – por enquanto desconhecidos – sem ter completado sua formação na escolinha de "como ser um cão".
Quando os filhotes são novinhos, a mãe e os outros cães adultos (se houver), costumam permitir que eles façam quase qualquer coisa. À medida que eles vão se desenvolvendo, os cães adultos começam a ser cada vez menos tolerantes e, aos poucos, vão deixando de aceitar atitudes indesejáveis (na visão dos cães). Os cães adultos passam a corrigir e educar os filhotes. É aí que os filhotes começam a aprender que não devem, por exemplo, perturbar o sono de um cão adulto, latir sem justificativa plausível (na opinião do cão adulto), se apropriar indevidamente de comida alheia ou desafiar um "superior hierárquico".
O que é aprendido na fase do imprinting fica gravado num compartimento de memória especial, que permite quase zero reconfiguração. Um cãozinho que não concluir o "curso de comunicação canina" ou não assistir às "palestras de boa convivência em matilha" na fase de imprinting vai carregar essa deficiência por toda a vida. A dificuldade de se expressar de forma clara e/ou de interpretar num piscar de olhos o que os outros cães "dizem" pode resultar numa série de problemas, como medo e/ou agressividade, ou comportamentos "sem noção" que podem provocar uma reação de outros cães.
Filhotes separados da mãe e da ninhada antes de 8 semanas quase sempre apresentam problemas no futuro, como latir em excesso, rosnar para todos, não respeitar o espaço dos outros (humanos e animais) etc.. Talvez os problemas mais importantes causados pela separação antecipada da ninhada sejam: não saber controlar a força da mordida, "brincar" de forma não aceitável com cães e pessoas, e não emitir ou ler sinais de apaziguamento (que evitam brigas entre cães).
Há várias causas de problemas que são previsíveis e podem ser evitadas. A separação adiantada da família canina é apenas uma delas.
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