Você pode "ensinar" coisas que você não quer sem saber que está "ensinando".
A maioria dos comportamentos indesejáveis que nossos cães apresentam é por causa de alguma coisa que nós fizemos repetidamente em interações anteriores com eles. Muitas vezes, sem perceber, nós reforçamos comportamentos que nós não gostamos. E quando um comportamento é reforçado, ele se mantém e se torna mais provável/ mais frequente.
Na educação canina, vale aquele velho ditado: "É melhor prevenir do que remediar". Saiba tudo sobre prevenção!
A boa notícia é que, mesmo depois que comportamentos "ruins" estejam instalados, um adestrador atual qualificado pode te ajudar com um o plano "B".
Vejamos um dos exemplos mais comuns:
Pular nas pessoas.
Os cães costumam pular nas pessoas que chegam para cumprimentá-las, quando eles ficam especialmente excitados com a chegada de certas pessoas. Quando cães filhotes (ou de porte pequeno) fazem isso, os donos costumam achar graça, pois se sentem lisonjeados, e retribuem com sorrisos, atenção e carinho.
Depois que o cachorro pula na gente, geralmente a gente espera ele decidir a hora de parar, ou a gente afasta (empurra) o cachorro com a mão ou com a perna, o que não deixa de ser uma forma de interação que pode satisfazer a muitos cães (pois é uma forma de atenção).
Assim, após algumas ou várias repetições, o cão acaba aprendendo que pular nas pessoas resulta em algum tipo de atenção, ou seja, o comportamento de pular nas pessoas é reforçado por uma consequência que o cão gosta. Você manda ela sair de cima e usa as mãos ou pernas para afastá-lo sem nenhuma intenção de agradá-lo, mas isso não importa. O que importa é a percepção de atenção e interação que acontece dentro da cabeça do cachorro naquele momento.
Vai chegar um momento em que você não vai mais querer que seu cão cumprimente as pessoas pulando nelas. Teria sido melhor se esse comportamento nunca tivesse sido reforçado, mas você não sabia.
Agora, a gente precisa começar mudar esse comportamento. Como? Ensinando ao seu pet um comportamento substituto e incompatível com pular.
A partir de agora, você deve remover qualquer possível reforço quando o cão pular, e reforçar intencionalmente o comportamento substituto. (Continue lendo para saber os detalhes.)
Por que não dar bronca nem punir?
Várias pessoas acreditam que seja uma boa medida colocar o joelho na frente quando o cachorro pular ou, pior, usar o pé como forma de punição.
Do ponto de vista do "treinamento atual e qualificado", tais procedimentos são totalmente sem sentido: são injustos, podem causar lesões, e não ajudam o cão a aprender um comportamento bom para substituir o comportamento "ruim". E são geralmente ineficazes!
Para usarmos o joelho ou o pé, temos que prestar atenção no cachorro e interagir com ele, o que pode acabar reforçando o comportamento de cumprimentar pulando.
Ensine um comportamento alternativo!
Ensine seu cachorro a se manter com as 4 patas no chão ou sentar (por exemplo) para ser cumprimentado e receber atenção e carinho das pessoas que chegam. Manter as 4 patas no chão ou se sentar (ou se deitar, ou ir deitar na caminha, ou ir buscar um brinquedo) são comportamentos incompatíveis com pular.
A partir de agora, você deve remover qualquer possível reforço quando o cão pular, isto é, no exato instante em que ele pular, desvie o olhar, podendo dar um passo para trás e virar as costas ao mesmo tempo, pare de falar ou emitir qualquer som, e não gesticule nem toque no cachorro, nem mesmo para afastá-lo.
O outro lado da mesma moeda é que, a partir de agora, você também deve reforçar de forma intencional o comportamento substituto, isto é, assim que ele pousar com as 4 patas no chão ou se sentar, você deve elogiar o cão (dizendo algo como "muito bem" com a voz suave para não excitar o cão) e recompensá-lo com a atenção e o carinho que ele deseja (também de maneira tranquila para que o cão não volte a pular).
Nos primeiros dias (ou nas primeiras semanas, dependendo de você e do cachorro), é uma boa ideia dar uns petiscos para reforçar o comportamento substituto: assim que o cachorro parar de pular e apresentar o comportamento desejado, coloque uns petiscos no chão.
É bem simples, mas não é tão fácil. Todas as pessoas, inclusive as visitas, devem agir sempre da mesma forma. E isso deve ser mantido por tempo suficiente para que o histórico de reforçamento anterior seja substituído por um novo na memória do cão.
No início, é possível que o cachorro insista ainda mais no comportamento de pular. É como se ele estivesse pensando: "Isso sempre funcionou, por que será que não está funcionando agora?" Mas se todas as pessoas tiverem disciplina, paciência e persistência, essa fase inicial vai passar.
Amplie seu campo de visão
Acima, olhamos para o nosso exemplo (o comportamento de pular na pessoas) como se ele fosse uma coisa isolada. Mas o que é realmente necessário para resolver comportamentos indesejados é ampliar o campo de visão.
É possível e até provável que seu cão não consiga se manter tranquilo quando você ou outra pessoa chega em casa porque ele tem muita energia acumulada ou porque está estressado. Isso tem que ser avaliado e resolvido em primeiro lugar.
Uma orientação que eu passo a todos os meus clientes, que se aplica tanto à prevenção de problemas quanto à solução de problemas, é a seguinte:
Evite despedidas emocionadas ao sair de casa e, principalmente, não faça da sua chegada uma festa. Ao chegar em casa (ou até quando você reaparecer depois de, por exemplo, tomar um banho), se o seu cão fica muito entusiasmo, não fale nada, não toque nele e não faça contato visual com ele enquanto ele estiver excitado. (Acredite, isso é melhor para ele!) Entre, coloque suas coisas sobre a mesa, tire seus sapatos (caso não os tenha deixado do lado de fora), lave as mãos, beba água, ligue a TV ou ponha uma música para tocar, sente-se e relaxe. Observe o comportamento do seu cão pelo canto do olho. Somente quando ele estiver dando sinais de calma é que você deve dar a atenção e o carinho que ele deseja.
Outra orientação, e esta é a mais importante de todas, você precisa avaliar e enriquecer a rotina e o ambiente do seu cachorro. É o atendimento rotineiro das necessidades básicas específicas dos cães na que os torna emocionalmente saudáveis, felizes, e aptos a aprenderem bons comportamentos. Clique neste link, pois este é o tema de outro artigo.
Você deve ter notado que eu incluí "parte 1" ao lado do título deste artigo. Então, deixe seu comentário aqui embaixo para me incentivar a publicar logo a parte 2.
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